JORDÃO EMERENCIANO: HOMEM – INSTITUIÇÃO
Thadeu Sales
Recife/1999
INTRODUÇÃO
De há muito
interessamo-nos pela vida e obra de Jordão Emerenciano – este homem vindo de um
clã humilde e modesto, mas que se tornou
um dos lídimos da intelectualidade pernambucana de seu tempo. Múltiplo, foi
incansável defensor da nossa cultura e do nosso desenvolvimento.
Bem disse Mauro Mota que Jordão “fazia tanta cousa,
e tudo tão bem fazia, que dava, às vezes, a impressão de multiplicar-se em si
mesmo de ter uma equipe invisível trabalhando com ele no espírito e nas mãos.”
O
Arquivo Público Estadual é também uma de suas obras que o tempo, na permanente
voracidade de tudo destruir, não conseguirá transformar em pó como em poeira
reduz tantas criações do homem. É portanto uma de suas obras imperecíveis. Ali
deu muito de sua vida como de si dava a qualquer solenidade, instituição,
trabalho, onde se pretendesse ouvir a palavra autorizada, uma exposição de
interpretações profundas. Não opinava sem se escudar na pesquisa histórica em
que era menestral de nossas letras.
Não pretendendo ser um trabalho definitivo
sobre este Homem-Instituição,
apresentamos a sua trajetória, através das suas múltiplas atividades exercidas
com espírito público, em diferentes cenários do tempo em que se projetou como
luminar reconhecido por todos os seus contemporâneos.
Para tanto, não nos seria possível, sem as
inestimáveis colaborações das distintas pessoas como o doutor Cid Feijó
Sampaio, ex-governador de Pernambuco; senhora Maria da Penha Emerenciano,
doutor Manoel Jordão Emerenciano, Tertuliano Jordão, e Marcílio Jordão,
respectivamente, viúva, filho, e primos do comendador Jordão Emerenciano;
professor José Antônio Gonçalves de Mello, diretor do Instituto Arqueológico,
Histórico e Geográfico Pernambucano; ensaísta Nelson Saldanha, e romancista
Lucilo Varejão Filho, membros da Academia Pernambucana de Letras; ensaísta
Edson Nery da Fonseca, ex-diretor da Faculdade de Ciências Aplicadas da
Universidade de Brasília; amiga Lúcia Nery da Fonseca; jornalista Lêda Rivas,
do Diário de Pernambuco; Hildo Leal da Rosa, Celda Gusmão e Telma Galhardo
Vasconcelos, técnicos do Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano; amigo
Eraldo Oliveira, técnico da Biblioteca Pública Estadual Presidente Castello
Branco; Eliane Ribas, bibliotecária da Faculdade de Direito do Recife; Padre
Expedito Miguel Nascimento, vice-diretor do Colégio Nóbrega; bibliotecária
Maria de Fátima Silva, do Gabinete Português de Leitura; e a amiga e colega
Eliane Mendes de Lima. Em especial, tributamos uma homenagem à memória do
professor Potiguar Matos, ex-diretor do Arquivo Público Estadual Jordão
Emerenciano.
A todos, somos profundamente gratos.
DOUTOR ALONSO: UM ENGENHEIRO SEM SE FORMAR
Severino Jordão Emerenciano nasceu em
Catende, Mata-Sul de Pernambuco, a 14 de fevereiro de 1919, filho de Alonso Elísio
Emerenciano e de Irene Jordão Emerenciano. Foram seus pais de origem humilde,
mas, pelas qualidades inerentes aos seus modos de vida, conquistaram a simpatia
e a admiração de todos os seus conterrâneos e conhecidos. De seu pai, homem
pacato e trabalhador, herdara tão somente a sua inteligência e operosidade –
dotes imperecíveis e que significariam a marca indelével de toda a sua
existência. Um mecânico industrial, que desde muito jovem iniciara-se nessa
profissão, trabalhando para as Usinas Catende, Cucaú, Central Barreiros, e, por
fim, prestou os seus serviços técnicos à Fábrica Peixe, dos Irmãos Brito, na
cidade de Pesqueira. Tão competente era, que os operários e demais empregados
daquela indústria o chamavam por “doutor”Alonso. Do profissional, poder-se-á
imaginar a sua eficiência pelo que diria mais tarde o próprio Jordão
Emerenciano : “foi um engenheiro sem se formar !”
A
PAIXÃO PELOS TRENZINHOS
Desde muito
pequeno Jordão Emerenciano gostava de desarmar brinquedos, especialmente
trenzinhos de lata, para em seguida armá-los novamente, e, devido a esse
hábito, o senhor Alonso imaginava que o filho fosse, no futuro, o engenheiro da
sua família. A fascinação lúdica da criança se estenderia também ao adulto,
dentro daquela concepção antropológica de Gilberto Freyre.(1) Tão seduzido foi
pelos trenzinhos, que, mais tarde, já cinquentão, tornara-se o seu maior
“hobby” colecionar esses sofisticados brinquedos eletrônicos trazidos das suas
constantes viagens que fazia ao Exterior.
Em
1931 estava com 12 anos, quando o notável poeta palmarense Ascenço Ferreira
compôs “Trem de Alagoas” – exaltando a sua terra natal no seu jeito-sem-jeito
de nordestino : “Vou danado pra Catende/
vou danado pra Catende/ vou
danado pra Catende/ com vontade de chegar ...”
_______
(1) “Que
menino brasileiro, desde os dias dos primeiros trens que aqui rodaram, um, no
Rio de Janeiro, outro, em Pernambuco, que tenha deixado de brincar de trem ou
com trem? De maquinista ou de foguista? Fingindo ser locomotiva. Brincando,
quando menino rico, com trenzinhos vindos de Londres. Brincando, quando menino
pobre, com trenzinhos feitos de simples caixas de fósforos.” In : Atendendo a
um convite. Discurso da inauguração do Museu do Trem, no Recife, em 25 de
outubro de 1972.
O MENINO QUE DÁ AULA DE HISTÓRIA
Era no
Ribeirão – o então povoado próximo de Catende a poucos quilômetros, - onde
moravam os avós maternos de Jordão e passava ele os seus finais de semana e as
suas férias escolares. Dentro da visão geral do ambiente em que viveu e de
forma até certo ponto denunciadora, Tomires Felix diz que “tinha sua igreja,
por sinal muito bonita, sua feira alvoroçada com matutos num corre-corre sem
fim, desarrumando para deixar à mostra suas mercadorias, barracas onde vendiam
desde panelas de barro, cavalos, fazendas, frutas, peixe, e até caranguejos mal
cheirosos de lama. ...E o telefone de dona Fortunata, que só ligava pra Usina
Cucaú.”(2)
Participou
Jordão, deveras empolgado, de sua emancipação político-administrativa, debaixo
do crepitar de foguetões e ribombar das bandas escolares, naquele longínquo 11
de setembro de 1928. Foi, verdadeiramente no Ribeirão, onde aflorou-lhe a arte
de Cícero e Vieira, tendo ainda ali madrugado os seus alumbramentos e sonhos
generosos. Onde viveu os melhores dias de criança, entre o caldo de cana
caiana, a rapadura, e o mel de engenho, e vislumbrou, a paisagem rústica dos
seus rios e canaviais. A terra de José Mariano, se não lhe fora lugar de
nascimento, a ele estava ligado desde a mais distante infância. Foram
suas tais afirmações telúricas
que “Ribeirão é o meu município de adoção e dele conservo lembranças muito mais duradouras e afetuosas do que o próprio lugar onde nasci. Aqui vivi o melhor da minha infância e os primeiros anos da juventude – idade que nunca se pode esquecer e à qual, bem ou mal, se associam indelevelmente a paisagem humana e a paisagem física que serviram de cenário, de pano de fundo, àquela idade.”(3)
Embora nunca tendo ali estudado, ainda menino, proferiu palestras aos alunos da Escola Padre Roma, com a chancela da professora Isaura Figueiredo. Inusitadamente, eis que fora visto, por mais de uma vez, o garoto corpulento e de voz anasalada, ensinando História do Brasil, com ar de professor e empertigado, num desembaraço impressionante. Poder-se-á mesmo dizer, simbolicamente, que na pequenina e acanhada escola ribeirãoense foi incipiente a sua tribuna e, com ela, o seu magistério. Também deveras, ter ali despertado a sua latente vocação de Historiólogo. E ainda confessaria que “aqui pronunciei o meu primeiro discurso, e , desde então, a tribuna exerceu sobre mim uma verdadeira fascinação e, nunca mais, pude esquecer-lhe o caráter de um quase altar onde a eloqüência celebra, bem ou mal, a liturgia do verbo.”(4)
_______
(2) Tomires Torres Galindo Felix. Prefácio de
Gilberto Freyre. Ribeirão : reminiscências de uma infância despreocupada e
feliz. Edições Pirata. Recife. 1984. Pags. 7,8.
_______
(3)
Jordão Emerenciano. José Mariano ou o elogio da
tribuna. Secretaria do Interior e Justiça. Arquivo Público Estadual. Imprensa
Oficial. Recife. 1953. Pags. 3,4.
(4)
Idem, Idem.
A SUA MOCIDADE RECIFENSE
Vencendo
Jordão os seus estudos primários na cidade de Catende, em seguida foi levado ao
Recife, para ser matriculado no Colégio Nóbrega, conceituado educandário dos
jesuítas. Destacando-se entre os melhores alunos da sua turma, foi distinguido,
por todos os anos em que ali estudou, com a insígnia da Ordem do Mérito Leão do Norte – instituída por esse colégio - ,
como ainda convocado a proferir palestras instrutivas nesse mesmo
Estabelecimento. Em 1937 licenciou-se em Ciências e Letras, sendo o aluno
laureado e orador da turma. O perfil integral do aluno ( como o dos demais
formandos ) foi publicado através da “Voz do Nóbrega” com todos os pormenores :
“Grande admirador da História Universal, dedica-se com afinco a esta matéria,
bem como a todas as demais. No curso se tem sempre distinguido como ótimo
aluno. Sendo um pouco poético, vem fazendo um estudo realmente invejável, -
motivo porque se tem imposto entre nós até hoje, como ótimo aluno e futuramente
também se imporá no curso universitário, até chegar o momento de conquistar o
seu diploma de bacharel para melhor e mais eficientemente servir ao Brasil e
aos seus extremosos pais.” (5)
_______
(5)
Voz do Nóbrega. Revista anual do Colégio Nóbrega. Nº 1.
Ano I. Gráfica da Renda Priori. Recife. 1937. p. 30.
Ainda sobre a sua passagem na
tradicional escola, fala-nos o professor e ensaísta Edson Nery da Fonseca : “A
mais antiga recordação que guardo de Jordão Emerenciano é a do aluno
precocemente brilhante que, nas festas do velho Colégio Nóbrega dizia versos e
proferia discursos com a desenvoltura de um adulto. A precocidade seria a qualité maitresse de toda a sua vida.”
(6)
Em 1938, matricula-se no Ginásio
Pernambucano, conclui os preparatórios em 1939, e, sendo distinguido em
primeiro lugar da sua turma é também o seu orador, cujos resultados finais do
exame da 2a série são especificados na ficha escolar da Faculdade de
Direito do Recife. (7)
Naquele começo de ano de 1938, o
Ginásio Pernambucano regurgitava de paraibanos, alagoanos, rio-grandenses do
Norte, enquadrados pela massa dos jovens pernambucanos dentre os quais muitos
formariam depois a turma de 1944 da Faculdade de Direito do Recife. Contemplado
em primeiro lugar no vestibular da Casa
de Tobias, ali encontrou dois grandes mestres e dois grandes amigos :
Aníbal Bruno e Luiz Delgado. E a sua conduta impecável, seu espírito lúcido e
equilibrado impulseram-no como pedra de toque para as grandes polêmicas, quiçá
pequenas guerras a correr ainda durante os anos que, junto com a maioria dos
bacharéis de 1944, iria viver até receber das mãos do velho professor e ex-reitor
Joaquim Amazonas a consagração do diploma. E para não perder a sua primazia,
foi ainda o aluno laureado e o orador da sua turma.
Mas a notoriedade do aluno também
se refletiu no líder do Diretório Acadêmico da velha Faculdade. Foi co-redator
do “Caderno Acadêmico”, revista do mesmo diretório, como ainda eleito 3º
vice-presidente da União Nacional dos Estudantes ( UNE ), em 1942. (8)
_______
(6)
Edson Nery da Fonseca. Jordão Emerenciano,
homem-instituição. In Correio Braziliense. Brasília, 10.03.72.
(7)
Literatura (74), Sociologia (88), Latim (71), Higiene
(56), Geografia (84), História da Filosofia (88), Média Geral (77). Ficha
escolar da Faculdade de Direito do Recife, em 2 de dezembro de 1944.
(8)
Caderno Acadêmico. Revista do Diretório Acadêmico da
Faculdade de Direito do Recife. Nº 3. Ano II. Junho de 1942. Imprensa Oficial.
Recife. 1943. p. 45.
Afinal, Jordão Emerenciano teve a
sua formação intelectual calcada em três tradicionais e fecundadoras
instituições que são o Colégio Nóbrega, o Ginásio Pernambucano e a Faculdade de
Direito do Recife e que honram a qualquer pernambucano ou brasileiro. “A
história da Casa de Tobias, como é hoje conhecida afetiva e orgulhosamente,
confunde-se com a própria história da afirmação da florescente cultura
brasileira, impregnada de influências européias e impulsionada pelos ideais e
aspirações da borbulhante nacionalidade daqueles tempos. Dificilmente se
apontaria um grande vulto nacional que não tivesse, direta ou indiretamente,
marcado passagem por suas salas. Por igual seria difícil imaginar um movimento
filosófico, um circúito de agitação de idéias que ali não tivesse, mercê da
efervescência predominante na segunda metade do século passado e na primeira
metade deste, encontrado campo fértil e dadivoso para polêmica e arroubos.”(9)
_____
(9) Celebração humanística. In Diário de
Pernambuco. Recife, 10,08.97.
O BRILHANTE ORADOR
O dom oratório era inato em Jordão Emerenciano. O
estudo e a prática da tribuna apenas aperfeiçoaram as suas qualidades de
fascinador de auditórios pela beleza da palavra e pela sobriedade significativa
dos gestos. Seus discursos resistem ainda hoje à leitura. Entre os intelectuais
e os estudantes da Faculdade de Direito do Recife, ele se tornou dentro em
pouco uma das figuras mais estimadas e admiradas pelas magistrais conferências
que nesta cidade proferiu, grande parte das quais sobre o Brasil e Portugal. A
sua verve tinha magnetismo pessoal e as suas conferências sobre efemérides ou
personagens da História Universal ou Brasileira eram ouvidas com o mais elevado
respeito pelo conteúdo que encerravam. Seus discursos se tinham poesia,
eloqüência, imaginação, não careciam tão pouco da lógica mais cerrada, mais
serena, mais aguda, em suas altas qualidades de argumentador esplendiam e o seu
cavalheirismo se exibia com a desenvoltura e a graça dos homens bem educados e
gentis. A elegância do dizer, a nobreza da expressão, a riqueza das imagens
davam-lhe à prosa o polido cunho dos estilos perfeitos e sonoros. Porque em
Jordão Emerenciano teve a literatura de língua portuguesa um dos seus mais
harmoniosos e mais elegantes estilistas.
O PROMOTOR PÚBLICO
O interventor federal em Pernambuco Agamenon Magalhães,
através do Decreto-Lei Nº 1.116, de 14 de fevereiro de 1945, criava a Comarca
do Ribeirão, e, consoante o Ato Nº 393, assinado no dia posterior, designava o
bacharel Severino Jordão Emerenciano para exercer, interinamente, a Promotoria
naquele Município. (10)
Mas o jovem bacharel não apenas foi
designado como o Promotor Público da novel comarca, mas, ainda Inspetor da
Instrução Pública – duas importantíssimas atribuições que se afinavam ao mesmo
homem. Na qualidade de Promotor, exerceu com isenção e dignidade a tarefa de
distribuir com eqüidade a Justiça na sua Comarca; na função de Inspetor da
Instrução, foi o dinâmico incentivador da educação pública do Ribeirão. De
certo, o elogio do promotor Jordão Emerenciano é o elogio da instituição a que
serviu. Ele a viveu na plenitude de sua independência, no respeito ao seu
espírito, na coragem de proclamá-la, dentro daquele lúcido princípio de que um
povo pode resistir ao fracasso de tudo, menos ao fracasso de sua justiça.
Mas era de Jordão a primazia de
capitanear, como homem plural, honrosas instituições logo a partir de suas
instalações, como também se situa o Arquivo Público Estadual, no Recife,
fundado pouco mais adiante.
_______
(9)
Diário Oficial do Estado de Pernambuco. Recife, 21 de
fevereiro de 1945.
Voltando ao seu querido Ribeirão,
em 1946, para participar das solenidades de inauguração do novo edifício do
forum, o ilustre bacharel lembrou a sua qualidade de ex-representante do
Ministério Público daquela comarca salientando que por momentos voltara a usar
da toga da “magistratura de pé” para em nome do governo municipal entregar a
nova casa à Justiça e ao povo daquela
Cidade. Discorreu rapidamente sobre a Justiça como virtude cívica e fundamento
da sociedade, sob os aspectos de justiça comutativa, legal e distributiva. E
terminou fazendo um apelo para o desenvolvimento da consciência jurídica e
social das classes que integram o Município.
O grande homem público e orador,
outra vez demonstrava sua benquerença à terra do intrépido abolicionista. (11)
“... Uns são guardadores de
rebanhos, águas e glebas; outros, de estrelas, sonhos e de outros bens ponderáveis ou imponderáveis; nós
somos, e com orgulho ! guardadores de papéis. Porque nos papéis é onde a
história se deixa, teremos de tratá-los com as nossas mãos, não duramente
profissionais, e sim plástica e suavemente técnicas.”
Mauro
Mota
_______
(11) Diário Oficial do Estado de Pernambuco.
Recife, 25 de maio de 1946. Imprensa Oficial. p. 17.
O ARQUIVISTA
Exercia ele
ainda a Promotoria da Comarca do Ribeirão – na sua peculiar polivalência de
fiscal não só da Lei como também da Educação -, quando teve de retornar ao
Recife, para assumir, em caráter efetivo, o cargo no qual enobreceria durante
os vinte e seis anos de sua vida.
O Decreto Nº 1.265, de 4 de outubro
de 1945, do Interventor Neves Filho, criando o Arquivo Público Estadual poderia
ter caído no vazio, como tantas outras iniciativas louváveis nas áreas
oficiais, se na sua direção não fosse colocado o homem certo, no caso o
bacharel Jordão Emerenciano. Interessado em estruturar o Arquivo, ele deu
início a um programa de múltiplas atividades, impulsionando um trabalho de
inventário, classificação, encadernação e catalogação de documentos. Constava
ainda do programa, o propósito de adquirir – através de solicitações aos
familiares – arquivos particulares de figuras ilustres de Pernambuco, para
conservar no Arquivo Público Estadual, no intúito de enriquecer ainda mais o
seu acervo e preservar a memória pernambucana.
Assim como fez o
ilustre jornalista Assis Chateaubriand, por exemplo,
adquirindo desenhos e manuscritos históricos raríssimos do período nassoviano,
e de Martim Afonso de Souza, donatário da Capitania de São Vicente, para
conservá-los no Instituto Pedro II, do Rio de Janeiro, que ele próprio o havia
criado. (12)
“Em 1945, quando o próprio Arquivo
Público Nacional ainda era como a Biblioteca Nacional, uma vergonha e quando a
maior parte dos arquivos estaduais se encontravam em verdadeira decomposição,
lançou-se Jordão Emerenciano à tarefa de organizar, nesta parte do Brasil, um
arquivo moderno sem escuridão nem bolor, aberto aos pesquisadores e
dinamicamente integrado na vida cultural de Pernambuco.” Depõe o bibliógrafo
Edson Nery da Fonseca. (13) Também
congregou esforços, no sentido de transformar o Arquivo numa plêiade de
intelectuais de toda parte do Mundo, promovendo constantes encontros e
conferências de real valor, entre eles, o padre Mathias Kiemen, OFM, da
Universidade Católica da América; professor Robert Smith, da Universidade da
Pensilvânia, e o professor Goergen Hermann, da Universidade de Bonn, na
Alemanha. Ali imprimiu seu “idearium”, como costumava chamar, dentro da sua
repartição : “Os que servem nos Arquivos não têm propósito de brilho ou de
evidência. Seu objetivo principal é servir aos que servem à Ciência.” (14)
Jordão deu a senha da grandeza
deste Arquivo. A partir da “Revista do Arquivo Público” – criada sob a sua
inspiração - , outras edições valorosas foram surgindo, e enriquecendo ainda
mais a bibliografia histórica brasileira, como os “Anais Pernambucanos”, de
Pereira da Costa ; o “Livro que dá razão ao Estado do Brasil”, com anotações de
Hélio Viana ; o “Livro de Tombo do
Mosteiro de São Bento de Olinda”, com a colação de textos de
D. Bonifácio Jansen, OSB ; e o extraordinário “Morão, Rosa & Pimenta”,
notícia dos três primeiros livros em vernáculo sobre a medicina no Brasil,
enriquecidos ainda, com uma crítica de Gilberto Osório de Andrade, introduções
históricas, interpretações e notas de Eustáquio Duarte, e prefácio de Gilberto
Freyre.
_______
(12)
Thadeu Sales. Instituto Pedro II. In : Assis
Chateaubriand : o contemporâneo do futuro. Recife. 1993. p. 37. ( datilografado
)
(13)
Edson Nery da Fonseca. Evocação de Jordão Emerenciano.
In : Revista do Arquivo Público. Ano XI. Dez/1974. Nº 13. Recife. Dialgraf. p.
95.
(14)
Revista do Arquivo Público. VII-X. Nos IX a
XII. 1952 – 1956. Imprensa Oficial. Recife. 1957. p. 4.
O
Investigador que era Jordão Emerenciano, estava completo no posto que lhe cabia,
pelo seu talento de elite, como Diretor do Arquivo Público Estadual, onde ele
transformou uma repartição habitualmente morta, numa casa cheia de vida, de
trabalho excepcional e raras conquistas de ordem intelectual. “O arquivista,
Não raro, é um introvertido, como os bibliotecários de Anatole France. Mas,
Jordão Emerenciano era essencialmente comunicativo”. Comenta o brilhante
jornalista Barbosa Lima Sobrinho. (15)
O Arquivo não ficou apenas em
melancólico depósito de documentos, mas esses mesmos documentos falam,
revelando a importância e o prestígio da História Pernambucana, bela e
extraordinária história de um Estado líder, dominador e que deu ao Brasil os
mais notáveis e altos momentos de sua crônica de fastos ilustres.
Há uma faceta conhecida apenas por aqueles que o procuravam
com a finalidade de consultar sobre determinado assunto para complementar,
instruir, valorizar até despretensioso artigo de jornal. Quando isto acontecia,
então ele alçava-se em sua grandeza e em sua bondade. As portas do Arquivo
Público abriam-se, as riquezas da instituição se expunham e todo material
chegava às mãos do consultante. Coroando essas facilidades e estímulos, sugeria
pesquisa mais ampla, tecia comentários, ressaltando a importância do assunto e
terminava conclamando o neófito a escrever uma plaquete ou mesmo um livro. Quantas
monografias e publicações não se fizeram como decorrência de uma simples consulta!
_______
(15) Barbosa Lima Sobrinho. O arquivista que não
resistiu ao carnaval. In Jornal do Brasil. Rio de Janeiro,19.03.72.
E para se arregimentar das técnicas
da Arquivística, matriculou-se, em 1949, no então novo curso de Biblioteconomia
da Universidade do Recife, concluindo-o, em 1951. Como se não ainda bastasse,
foi conhecer de perto o Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro e, mais adiante, os
mais importantes arquivos públicos europeus, com a finalidade de introduzir, no
Arquivo Público Estadual, o “know-how” mais adequado.
Encontrou o Arquivo instalado
modestamente, no pavimento térreo, da ala direita do Palácio do Governo, com
acomodações improvisadas, poucos funcionários e espaço muito acanhado para uma
instituição de finalidades tão amplas. A sua riqueza documental podia-se
avaliar, sabendo que a seção histórica formava-se de 100 coleções com mais de
3.000 códices, tendo cada um deles uma média de 300 documentos. A série
Presidentes da Província englobava 80 códices, com mais de 30.000 manuscritos,
abrangendo uma época de 1702 a 1904.
Contudo, durante os períodos em que
esteve afastado do Arquivo Público Estadual – exercendo várias outras funções
públicas de relevo -, foram seus diretores interinos Luís Marques Vieira, Luís
Sena Santos, Mauro Mota, Gilberto Osório de Andrade e Flávio Guerra.
SECRETÁRIO-GERAL DO TERRITÓRIO DE FERNANDO DE NORONHA
Em princípios de 1946 mal se instalava como diretor do
Arquivo Público Estadual, teve que se afastar para exercer outro meritoso
cargo, à disposição do Governo Federal : o de Secretário-Geral do Governo do
Território de Fernando de Noronha.
Transferindo-se desde então, para aquele
importante arquipélago, lá permaneceu até janeiro de 1948, donde teve ensejo de
dirigir o Aprendizado Agrícola do Território, instalar o Cartório dos Registros
Públicos, o Juízo de Casamentos – de que também era titular -, reorganizar a
Secretaria do Governo, propor a aquisição de livros que constituiriam o núcleo
inicial da futura biblioteca-arquivo museu do arquipélago e apresentar ainda um
ante-projeto de “Regulamento Geral do Território.” Colaborou com o seu governador
na construção de um monumento alusivo à Primeira Travessia Aérea do Atlântico
Sul, por Gago Coutinho e Sacadura Cabral, tendo, por isso mesmo, recebido do
Comandante da Aviação Naval de Portugal a medalha de bronze comemorativa
daquele feito. (16)
_______
(16) Folha da Manhã. Recife, 06.02.1949.
O REVISIONISTA
Já em 1938, Jordão Emerenciano dirigia o “Correio
Imperial”, um jornalzinho informativo dos estudantes monarquistas, e escrevia
também para revistas de historiadores sisudos como “Fronteiras” e “Tradição”.
Nesta última, publicou uma matéria sobre o então lançamento da obra de
Sebastião Pagano “O Conde dos Arcos e a revolução de 1817”, tecendo comentários
enaltecedores a respeito do polêmico livro e ainda – aliando-se ao mote da
questão - , debatendo contra o sentido oficial da história e afrontando a
opinião geral dos conservadores. Insurgiu-se dizendo “que a revolução foi obra
da maçonaria internacional, e não teve apoio dos pernambucanos. Portanto,
pode-se negar o seu caráter de “movimento nacionalista”. É preciso muita boa
vontade para acreditar que a seita internacional promovesse NACIONALISMO...”
(17)
Tal cometimento, provocou
exacerbadas discussões nos meios intelectuais recifenses, dando lugar a um
renitente embate jornalístico de historiadores a nível de Nilo Pereira e Mário
Melo. Nos jornais, por longo tempo, tais controvérsias tomaram vulto de
proporções cada vez maiores e apaixonavam porque os seus autores se esmeravam
na manifestação de conhecimentos históricos e filosóficos. Numa delas, assim
encetava o mestre Nilo Pereira : “O meu antigo aluno Jordão Emerenciano deu-me a honra de uma resposta a
umas certas cócegas que, inocentemente, fiz ao revisionismo histórico.
______
(17) Jordão
Emerenciano. A revisão da história. In : Tradição. Ano II. Nº 8. Dez/1938.
Editora Revista Tradição. Recife. p. 52.
Chegou o momento de nos explicarmos
todos sobre essa tremenda coisa que é o revisionismo. Tenho tanta ansiedade de
esclarecer minha atitude em face desse novo santo-ofício quanto Jordão
Emerenciano de fixar sua posição. Porque eu, meu caro Jordão, assim entendo o revisionismo:
a consagração dos algozes e a condenação dos heróis.” E replicava : “Eis uma
coisa que me distrái : o revisionismo. Volto, hoje, ao assunto, porque tenho a
impressão que o meu amigo gostará que, mesmo os não ortodoxos, o problema dê
vez por outra o sinal de vida. Nada pior que a morte de um assunto. Nesse
gênero há diversas modalidades de morte : há certos temas que desaparecem por
asfixia; outros por enfado; outros por falta de vitamina; outros por excesso de
embriaguês. Não sei, por exemplo, que espécie de morte teria ocorrido ao
patrianovismo, parecendo que, entre a avitaminose e o delírio, esta última
hipótese é mais aceitável.”(18) Ao que o perspicaz revisionista respondeu :
“Várias vezes fui chamado à liça. Não quero me furtar ao convite nem fugir a
uma explicação que julgo moralmente dever. Não obstante toda estima e admiração
que lhe tenho discordo dessas suas afirmações. Fui seu aluno de história desde
o remoto ano de 1933 mas, nesse capítulo estou em antagonismo com o meu antigo
mestre. As idéias que sustento nesse assunto correm exclusivamente por minha
conta. Pode ser que eu tenha aprendido mal a lição, mas tenho sérios e
ponderáveis motivos para manter uma atitude que nem o estudo retificaram. O
melhor da amizade é a liberdade, dizia Belloc... Explico-me mais por causa
daqueles que dão a esse espírito de revisão um caráter político e faccioso e
até anti-nacional. Esquecidos estão de que nessa atitude há uma honesta e sadia
preocupação de restabelecer a verdade histórica.” (19)
_______
(18)
Nilo Pereira. Revisionismo histórico. In : Folha da
Manhã. Recife, 10.04.1949.
(19)
Jordão Emerenciano. A semana de estudos históricos. In
: Vanguarda. Rio de Janeiro, 15.06.1949.
Pretendendo os diretores da revista
“Tradição” realizar em agosto de 1939, a Semana de Estudos Históricos, quando
participariam diversos conferencistas para tratar dos mais variados aspectos em
torno da Revolução de 17, entre eles Jordão Emerenciano, escreveu Mário Melo, o
secretário perpétuo do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico
Pernambucano : “Deus porém, há de permitir que eu esteja vivo e são ao tempo da
“semana lúgubre” , com a coragem que sempre me tem dado e, o apoio que não me
falta do povo em tais momentos, para refutar uma a uma as heresias e injustiças
históricas, e expor aos patriotas os inimigos da Pátria.” (20)
Por diversas circunstâncias tal conclave deixou de
realizar-se. Com a morte de Manoel Lubambo, o seu idealizador, ele foi
praticamente esquecido, ao que declarava Jordão: “Sendo um dos conferencistas escalados
deixei de lado o meu assunto e o temário geral – não o espírito da Semana – e
comecei a estudar a Revolução de 1817 em globo. Não raro, estudos menos
apressados revelam como certos pontos da história oficial que passam por
intangíveis e sagrados, comportam retificações e revisões. Em referência a
Semana de Estudos Históricos se congregava uma mocidade que queria prestar o
seu contingente de serviço ao Brasil.
Uma mocidade consciente, que sabe o que quer, e quer o que sabe. Mocidade que
não sonha com revoluções poéticas e ilusórias. É uma mocidade que sente vibrar
em si a voz do sangue, a voz dos Guararapes. Esta mocidade se nega passar pelas
forças caudinas, pelo jugo da maçonaria. Nem ideologias exóticas nem velhas
heresias maçônicas podem nada sobre nós. Contra elas é que defendemos o Brasil
na integridade do seu patrimônio histórico.” (21)
Embora tendo Jordão Emerenciano
pertencido a quase todos os institutos históricos deste país, porém não se
associou ao Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano. Todavia,
a esse respeito, Mário Melo – em carta enviada à redação do Diário da Noite –dava o seguinte esclarecimento : “Li a primeira nota em que dissestes que o Instituto Arqueológico, por minha causa, reprovara a proposta com que se candidatara a sócio o Dr. Jordão Emerenciano. Há, de fato, uma vaga no Instituto, com o falecimento do Dr. Geraldo de Andrade. Quem para ela se candidatou foi o Dr. Nilo Pereira e não o Dr. Jordão Emerenciano. E a proposta do Dr. Nilo Pereira ainda não foi discutida; apenas apresentada. Conquanto divirja do revisionismo do Dr. Jordão Emerenciano, o que combati a seu tempo e em qualquer tempo combaterei, em nome do próprio Instituto, cuja existência é para exaltar as glórias pernambucanas, que o revisionismo quer enodar, declaro que ele tem mérito e credenciais para pretender a qualquer instituto histórico brasileiro. Mas o objeto desta é declarar como faço, que ele nunca foi proposto sócio e portanto não podia ter sido rejeitado.” (22)
_______
(20) Mário Melo. A
semana es estudos históricos. In : Jornal Pequeno. Recife, 05.06.1939
(21) Jordão
Emerenciano. A semana de estudos
históricos. In : Vanguarda. Rio de Janeiro, 06.04.1949..
(22) Mário Melo.
Cartas à redação. In : Diário da Noite. Recife, 12.01.1950.
SECRETÁRIO DO GOVERNO ESTADUAL
Durante o período 1954 – 1955 foi Jordão Emerenciano
Secretário do Governo Cordeiro de Farias, e, em todo aquele tempo colaborou,
com discrição e eficiência, nas mais altas e importantes decisões do Governo do
Estado, com vistas ao desenvolvimento de Pernambuco e ao bem social do povo
pernambucano, não deixando faltar, contudo, dos seus vastos conhecimentos
jurídicos e do seu acendrado espírito de urbanidade para com todos os seus pares
e semelhantes em geral.
O CRIMINALISTA
Perspicaz como advogado
e exegeta, na condição de membro do
Conselho Penitenciário do Estado de Pernambuco, elaborou e encaminhou um
substancioso parecer fundamentado na apreciação da periculosidade no livramento
condicional, cuja tese foi unanimemente aprovada por esta Corte, em sessão de
20 de março de 1956. A sua explanação convincente produziu resultados que
estimularam as reflexões de todos os juristas, demonstrando com altivez a sua
sapiência e, sobretudo, o seu espírito de liderança. Advertiu que “A função de
política criminal do Conselho seria truncada e mutilada se não cuidasse desse
aspecto de prevenir e de evitar que o livrando venha cometer novos crimes. Se e
demitisse do dever de, em qualquer hipótese, verificar a ausência ou a cessação
da periculosidade estaria atraiçoando a sua missão.” (22)
Como criminalista, com uma larga
experiência no ramo, galgou expressivas vitórias nos tribunais, a exemplo do
julgamento do tenente da Polícia Militar de Pernambuco Voltaire de Oliveira, a
28 de novembro de 1957, cuja defesa causou intensa ressonância nos meios
forenses e sociais do Recife.
Também na V Reunião Brasileira de
Penitenciária, realizada em Porto Alegre, foi a figura de maior brilho, no
congresso, e, entre dezoito estados brasileiros participantes, teve ele uma
atuação verdadeiramente excepcional.
_______
(22)
Jordão Emerenciano. A apreciação de periculosidade no
livramento condicional. In : A União. João Pessoa, 08.07.1956.
A CÁTEDRA COMO UMA LIÇÃO DE VIDA
Foi como professor titular de História da Literatura Portuguesa da Faculdade de Filosofia da
Universidade do Recife que, no início do ano letivo de 1964, proferiu naquela
Escola, a convite do seu antigo Deão, professor Nilo Pereira, a aula magna da abertura de seus cursos.
Ninguém com admiração maior a
Portugal do que Jordão, foi indicado para tão digna incumbência. Parece que o
velho espírito de Sagres – que uniu permanentemente o Brasil à gloriosa nação
peninsular - , imprimiu na alma desse professor acendrado respeito,
consideração profunda, às coisas lusitanas. Escolheu como tema de sua preleção,
três fontes bibliográficas que reputava fundamentais para a história da literatura portuguesa, que
são a Biblioteca Lusitana, de Barbosa Machado, o Dicionário Bibliográfico
Português de Inocêncio e o Catálogo de Livros Antigos Portugueses, de D. Manuel
II. “Era o remate natural da aula – explicava o professor Nilo Pereira - ,
quando o mestre, já didaticamente realizado, tira da exposição a riqueza humana
do seu conteúdo. Não bastava apontar à curiosidade estudiosa as fontes
irresistíveis. Era necessário mostrar que naquilo estava, pelos tempos dos
tempos, a grandeza da criação, a heróica tenacidade do trabalho intelectual, a
beleza litúrgica das horas de silêncio, das horas rituais, ascéticas,
transformadas em “instrumentos de trabalho.” (23)
_______
(23) Jordão Emerenciano. Três instrumentos de
trabalho. Fontes básicas para estudos portugueses. Imprensa Universitária.
Universidade do Recife. 1965. Págs. 9,11.
Aula essa, - transformada mais
adiante em livro - , revela um mundo estranho, cheio de ressonâncias, vida e
obra de beneditinos de registros históricos, intrépidos colecionadores de
informações já mergulhadas na poeira dos tempos, a indicar o trabalho, a
vontade de servir à cultura de um punhado de portugueses. Mais do que um
universo fascinante, a ressurreição do velho esforço luso a serviço da cultura,
o reencontro com eminentes bibliógrafos e bibliófilos, o mestre Jordão
Emerenciano transmite, em sua aula de sapiência, método de trabalho científico
para investigação nos fenômenos históricos no que se relacionam com a crítica e
a bibliografia literária de Portugal. E o faz não só com a didática de
professor, porém com o entusiasmo do intelectual que vê mais do que o roteiro
da literatura lusitana encontra nesse caminho as amoráveis veredas de sua
formação espiritual.
Adianta o professor Joel Pontes que
“apesar das múltiplas ilustrações que ostentava, Jordão Emerenciano foi um
homem simples. Tanto falava a imponente oração oficial em nome da Universidade
como apreciava a boa anedota que o estudante jovem lhe contava. Alto na
compleição, bondade e saber, quando passava pelos corredores da Faculdade era
como um navio com suas bandeiras saudando terra. A mocidade estimava-o, mesmo
aqueles estudantes que, confiados em sua bondade, desleixavam deveres de sua
tão amada cadeira ( nunca se acostumou a dizer disciplina ) que era a de
Literatura Portuguesa e da qual ( repugnava-lhe dizer “titular” ) se
considerava ainda catedrático.” (24) Permanecendo durante dezesseis anos como
titular dessa disciplina, criou ele o Instituto de Estudos Portugueses na mesma
Universidade.
_______
(24) Joel Pontes. Galhardia de cavaleiro. In :
Diário de Pernambuco. Recife, 18.02.1972.
DOUTOR HONORIS CAUSA
Como reconhecimento ao quanto representava para o
ensino universitário brasileiro, foi que a Congregação da Faculdade de
Filosofia do Crato resolveu conceder-lhe o título de “Doutor Honoris Causa”,
a 28 de novembro de 1969.
Na noite da solenidade, o diretor
da Faculdade de Filosofia do Crato, professor José Newton de Souza, dirigiu-lhe
a seguinte saudação : “Vossa Excelência, Senhor Professor Jordão Emerenciano, é
um daqueles bons brasileiros que se têm empenhado em estudar o Brasil,
notadamente o Nordeste, na sua história e na sua atual realidade. É um daqueles
que se têm dedicado ao trato de nosso passado, particularmente ao de nossas
relações com Portugal, onde se fincam nossas raízes e se reconhece nossa feição
de povo latino e católico.” (25)
_______
(25) José Newton Alves de Souza. Saudação ao Exmo.
Sr. Prof. Jordão Emerenciano, recebendo-o como “Doutor Honoris Causa” da
Faculdade de Filosofia do Crato. Crato, 28.11.1969. ( discurso datilografado )
ESTUDOS DE PROBLEMAS BRASILEIROS
A partir de 1970 – ano em que fora criado pelo
presidente Garrastazu Médici, a disciplina de Estudos de Problemas Brasileiros
- , foi o professor Jordão Emerenciano o seu titular e coordenador geral da
mesma, na Universidade Federal de Pernambuco. “Como coordenador geral desta
disciplina lá estava, acompanhando todos os momentos, analisando os processos
didáticos e atento aos menores acidentes para que a ensinança fosse a mais
eficiente possível. Sua preocupação máxima era o estudante. Grande orador, dos
mais fluentes que o Brasil tem aplaudido, ninguém era mais simples e menos
retórico ao dar uma aula. Conhecedor profundo de problemas nacionais em
múltiplas áreas, ninguém mais humilde quando escutava as preleções, ainda que
em campo de sua especialização. Com efeito, possuía um estilo. Estilo de
escrever e de falar, inimitáveis, admiráveis, porém, mais ainda, um estilo de
viver. Para ele, o trato com os semelhantes era tão profundamente cristão, que
ao prêmio dos justos na vida eterna antecipou-se a gratidão dos seus
contemporâneos. Foi professor até nisto : na lição de ternura humana que
extravasava da família para a legião de amigos e desta para turmas e turmas de
estudantes que procuravam suas classes. No derradeiro ano de existência foi o
professor geral da Universidade, se assim se pode dizer, por que a disciplina
da qual estava, na ocasião, incumbido, a de Estudos de Problemas Brasileiros,
abrangia a totalidade dos universitários.
Emprestou o melhor
de sua dedicação aos jovens, dando-lhes, e a todos nós, a suprema
lição de uma vida exemplar, e invejável, dedicada ao serviço da Pátria, ao
ensino e à administração pública.” (26)
De grande repercussão no meio
universitário foram as mensagens cívicas ministradas por ele, através do
magnífico curso de Estudos de Problemas Brasileiros que coordenou pela
televisão universitária, no Recife, em 1971.
_______
(26) Marcionilo de Barros Lins. Responsabilidade
moral e cívica dos universitários. In : Diário de Pernambuco. Recife,
07.03.1972.
EXALTAÇÃO A GILBERTO FREYRE
Jordão Emerenciano, o grande mestre de cerimônias que
tinha uma admiração incomum ao ilustrado sociólogo e amigo Gilberto Freyre, foi
o responsável pelo brilho e requinte da solenidade, realizada a 26 de novembro
de 1971, no salão nobre do Gabinete Português de Leitura, quando este recebeu o
título de “Doutor Honoris Causa” pela Universidade Federal de Pernambuco.
Mediante a sua providencial incumbência, a festa foi revestida de todo o
grandioso esplendor das solenidades universitárias da Idade Média. E dizia ele
mais tarde : “Imagino o que foi, em esplendor, tradição e beleza o doutoramento
de mestre Gilberto Freyre, em Coimbra : o cortejo, as saudações e vênias, a
sala dos atos grandes, a unção do novo doutor para nós brasileiros, incapazes
de sentir o íntimo e profundo sentido dessas cerimônias, o importante está em
saber que o alvo de todo aquele ritual era um pernambucano que aqui escreveu o
melhor de sua obra – hoje de repercussão internacional e aqui permanece
radicado não obstante todas as solicitações e chamamentos. Muitos têm sido
doutorados pela plurisecular Universidade por causa de sua função e de sua alta
hierarquia política ( chefes de Estado, embaixadores ). Há porém uma categoria
– a dos intelectuais, sábios, pesquisadores e escritores, uma espécie de
aristocracia mental, que recebe essa honraria independente de função e
exclusivamente pelos méritos de sua inteligência e de sua obra.
Nessa categoria que transcende o
temporário e o acidental de certas funções, situa-se mestre Gilberto e por causa
de sua obra é que recebeu aquela consagração, ponto alto na vida de um
escritor, de um intelectual. É claro que ela, essa consagração universitária,
não atribui nem confere mérito. Declara-o. É o solene reconhecimento do mérito
preexistente ao doutoramento. Mas é como se fosse – “mal comparando” –
sacramental. Imprime uma marca especial.
Pernambuco deveria orgulhar-se da
exaltação desse escritor que tanto tem honrado a tradição da inteligência
nordestina e projetado o nome de sua terra. Uma consagração dessas implica em
valores não negociáveis, não descontáveis nos bancos mas que têm uma
permanência e uma perpetuidade a salvo das cotações de câmbio e das tabelas de
juros.”(27)
_______
(27) Jordão
Emerenciano. A Velha Universidade. In : Diário de Pernambuco. Recife,
21.12.1962
NA ACADEMIA PERNAMBUCANA DE LETRAS
Homem de letras,
teve ele a polivalência, a compreensão sedutora, a força do estilo, combinando
a ciência e a arte, o dogma e a estética, a palavra e o pensamento. Na Academia
Pernambucana de Letras foi, aliás, o primeiro não acadêmico a ocupar sua
tribuna como orador oficial duma solenidade sua, quebrando, consequentemente,
uma praxe de estilo até então ali conservada.
O fato inédito, ocorreu a 30 de
agosto de 1949, quando – por sugestão do acadêmico Gilberto Osório de Andrade e
aquiescência do plenário da Casa – o escritor Jordão Emerenciano foi chamado a
proferir um discurso alusivo ao centenário da morte de Edgar Allan Poe, o
extraordinário escritor norte-americano. Neste mesmo dia, publicava o
jornalista Paulo do Couto Malta, no Diario de Pernambuco, a seguinte nota:
“ O 1º centenário da morte de Edgar
Allan Poe encontra alerta o grupo que no Recife, entre almoços e conferências,
discute, debate e recita o autor do “Corvo”. O grupo realiza mais reuniões
pelos jornais do que na sua sede. Entre os cultores de Poe encontramos o
rotundo Jordão Emerenciano, o ameno Andrade Lima, o prolífero Silvino Lopes e o
delegado Apúlcro de Assunção. (...) Allan Poe alvoroçou o brasileiro que nos
bancos escolares e acadêmicos demonstrou inclinação para as letras.
Gostou do seu estilo realista que beira os mandamentos da Escola de
Medan. As homenagens que as sociedades culturais estão lhe prestando são
significativas da admiração que conservamos pelo autor de histórias de crimes e
pelo homem complicado que tinha ao mesmo tempo asas e rabichos . Esperamos que
Jordão Emerenciano diga, hoje, na sessão da Academia Pernambucana de Letras em
homenagem a Poe, o que pode soar como novidade, a convir que, apesar de muito
lido, é pouco falado entre nós ”.
Ali estreou ele, com as rutilâncias da
sua verve e todos os seus títulos honoríficos, menos o de imortal do ilustrado
Instituto. O inusitado acontecimento levou o acadêmico e um dos seus mais admirados amigos Silvino Lopes,
a escrever a seguinte nota : “ O Sr.
Jordão Emerenciano, ao varrer a poeira da Academia com a sua conferência sobre
Allan Poe, até no desabamento do mundo por meio dos pedreiros
livres, poderia haver pensado, porém, indo da tribuna ao teto, com o seu
avantajado físico, não imaginava que eu viesse a me ocupar desse feito tão memorável
!” (28)
_______
(28) Jordão Emerenciano. Edgar Allan Poe : O
homem, o temperamento. Prefeitura Municipal do Recife. Diretoria de
Documentação e Cultura. Imprensa Oficial. Recife, 1950. p. 4.
Finalmente, numa noite de grande
brilho para a “Casa de Carneiro Vilela”, tomava posse, a 5 de dezembro de 1952,
o jovem ensaísta Jordão Emerenciano, ocupando a cadeira nº 8, tendo por patrono
Joaquim Carneiro Vilela e vaga com a morte do poeta e jornalista Silvino Lopes,
cabendo a Nilo Pereira o discurso de saudação.
No seu discurso de posse – a que
deu o nome de “Silvino Lopes : o homem e a obra” - , exaltava as qualidades
daquele que foi antes de tudo um jornalista. E destacou que “a insatisfação do
cronista, do jornalista, está justamente nessa consciência de gastar-se,
dilapidar-se no efêmero, no transitório, no passageiro. Um comentário, uma
crônica, uma reportagem por mais bem feita que seja tem esse destino infecundo
e estéril de durar apenas algumas horas. Próprio do jornalismo é esse constante
vir-a-ser, esse flutuante devenir. Não
raro, belas inteligências ( já isso, senhores leitores maliciosos, não tomem
para mim ), nascidas ad majorem, se
dilapidam e se gastam, e se queimam na
sarça ardente do jornalismo.” (29) E nos seus agradecimentos, os arroubos de
sua emoção : “Devo confessar, senhores acadêmicos que a mim me apraz, e apraz
muito, pertencer à vossa ilustre companhia. A imortalidade literária, sempre
apetecível em qualquer idade, é gratíssima ao humano coração quando vem ainda
na plenitude da vida e no melhor da mocidade. Acreditai-me, sem muito esforço,
que senti uma alta e grande alegria ao saber-me
eleito acadêmico quando mal completava os trinta e três anos – o que é
uma bela idade. Creio que experimentar a glória nobre e dignificante da
imortalidade acadêmica, ainda assim tão moço, é um dos prazeres maiores que
pode ser dispensado a um homem. E a
maneira como me destes esse prazer foi, por sua vez, outra alegria grande : Elegi-me por unanimidade - tendo um dos meus concorrentes num gesto de alta nobreza e de muito desprendimento, retirado a sua candidatura para não quebrar essa unanimidade – eis um processo tão raro e tão incomum, que sobremodo me tocou o coração. Experimento, assim, na plenitude da vida e na mocidade a dupla e rara alegria de receber a consagração literária e de recebê-la por consenso unânime dos que têm assento nesta ilustre Casa.”(30)
Dela foi também o seu secretário e, nesta sua honrosa atribuição se arrojou, em janeiro de 1954 - ano do Tricentenário da Restauração Pernambucana - , a apresentar uma proposta para que a Academia se incumbisse da coordenação e edição comemorativa de uma história geral da literatura em Pernambuco. Iniciativa que foi acatada no plenário da Casa, que decidiu, ainda indicar os nomes de acadêmicos para dirigir a importante obra literária : Fernando Mota ( poesia ); Aníbal Bruno ( conto, romance, novela, memórias e narrativas ); Waldemar de Oliveira ( teatro ); Mário Melo ( a pesquisa histórica ); Nilo Pereira ( o jornalismo ); Padre Pedro Adrião ( literatura religiosa e eloqüência sagrada ); Gilberto Osório ( eloqüência profana ); Luiz Delgado ( críticas e tentativas filosóficas ); Célio Meira ( antologia geral ). (31) A respeito desse plano, declarava Jordão que“esse será sem dúvida, o maior e o mais duradouro monumento que se poderá erguer a Pernambuco, na data maior da sua história. Será um balanço, amplo e completo, da nossa cultura em diferentes gêneros literários e um processo para inferir das tendências e das características desse espírito pernambucano.” (32)
_______
(29) Jordão Emerenciano. Silvino Lopes : o homem e a obra. Coleção Concórdia. Imprensa
Oficial. Recife, 1959, Págs. 15,16.
_______
(30)
Jordão Emerenciano. Silvino Lopes : o homem e a obra.
Coleção Concórdia. Imprensa Oficial. Recife, 1959, p. 43.
(31)
Jordão Emerenciano. História geral da literatura em
Pernambuco. In : Tribuna de Petrópolis, 22.10.1954.
(32)
Idem, idem.
SAUDAÇÃO A LUIZ
MAGALHÃES MELO
Foi ele o escolhido, no ano de 1965, para fazer a
saudação de posse naquele sodalício, de um seu contemporâneo da Faculdade de
Direito do Recife, o jornalista Luiz Magalhães Melo – atual presidente da
Academia Pernambucana de Letras - , ao ocupar a cadeira cujo patrono é o mártir
Frei Caneca.
Exaltando as qualidades do novel
acadêmico no discurso que rotulou de “Pensamento e Ação”, fez ele a
interessante revelação :
“Entre nós há uma afinidade que
supera qualquer divergência doutrinária ou de filosofia política. Nós ambos
nascemos a uma geração singularmente marcada. Nascemos quando ainda estava no
ar e nas consciências os últimos fumos da chamada grande guerra e o mundo
sofria, então, uma transformação sem precedentes. Saímos da Faculdade quando
terminava outra guerra, cujos efeitos ainda hoje se fazem sentir nas estruturas
políticas, sociais e econômicas. Fazem-se sentir no equilíbrio internacional
com o mundo dividido por duas cortinas. Somos, assim, uma geração que nasceu e
se formou entre duas guerras. Enquanto isso o país vivia um regime de exceção e
a primeira vez que exercitamos o dever democrático do voto já concluíramos o
curso universitário. Não exagero, fomos
uma geração sem juventude mental, pois as nossas primeiras preocupações, os
nossos primeiros ensaios versaram sobre motivos demasiadamente sérios e pesados
para que se mantivesse, a salvo, a nossa juventude. Fomos, assim, uma geração
que envelheceu demasiado cedo. Em troca desse sacrifício, do qual cedo tomamos
consciência, em troca desse sacrifício que nos custou um bem irrecuperável,
restou-nos a solidariedade que nasce do sofrimento e da angústia. Sabemos
pertencer a uma geração sofrida, muito vingada pela inquietação mas com algum
caráter, personalidade e um forte poder de decisão.” (33)
(33)
Jordão Emerenciano. Pensamento e Ação. Discurso de
saudação ao acadêmico Luiz Magalhães Melo, por ocasião de sua posse na Academia
Pernambucana de Letras. Recife, 1965. ( datilografado ).
TRICENTENÁRIO DA RESTAURAÇÃO PERNAMBUCANA
A abertura das comemorações do Tricentenário da
Restauração Pernambucana, se deu no Recife, em agosto de 1954, efemérides que
teve a efetiva participação do Arquivo Público Estadual e que foi, sem dúvida,
o acontecimento histórico mais marcante já realizado neste Estado nos últimos
tempos.
Comemorando a vitória de tanta
significação, foi ainda realizado um Congresso de História, que também assumiu
importância nacional. Muitos estudiosos e pesquisadores dos diversos setores da
cultura estiveram presentes ao conclave, inclusive intelectuais de outros
países. Entre outros participantes, o Congresso contou com a participação de
José Honório Rodrigues, José Antônio Gonsalves de Mello, Hélio Viana, Manuel Diengues,
Dante de Laytano, Paulo Eleutério e Airton Carvalho, diretor do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional do Nordeste, além de muitos representantes de institutos históricos estaduais e municipais.
A presidência coube a Luís Estêvão de Oliveira, que trabalhou na comissão organizadora ao lado de José
Maria de Albuquerque, diretor do Museu do Estado e de Jordão Emerenciano,
diretor do Arquivo Público Estadual. O grande acontecimento foi exaltado,
através do Diário de Notícias, do Rio de Janeiro, em sua edição de 15.08.1954 :
“O Congresso comemorativo do
Tricentenário da Restauração Pernambucana, nascido sob a inspiração do heroísmo
nordestino, reafirma, nesta oportunidade, a crença e a fé dos historiadores
brasileiros nos princípios da liberdade, da igualdade das leis e da paz, sem os
quais é impossível escrever e ensinar história.”
Na Faculdade de Direito do Recife
ficaram expostas numerosas fotografias de peças existentes no Museu Imperial de
Petrópolis. No Teatro Santa Isabel foi exibida a magnífica coleção de escultura
religiosa colonial ou popular de Abelardo Rodrigues. Apresentando a mostra ao
Congresso, disse Guilherme Auler, secretário do certame : “que ela representa
grandíssimo esforço pois a bibliografia da escultura brasileira é paupérrima apesar
de entre as artes brasileiras a escultura ocupar um lugar de preponderante
destaque. Com exceção do Aleijadinho, Mestre Valentim, Chagas, o Cabra ( da
Bahia ) e os escultores das missões da Província de São Pedro, tudo o mais
continua em nebulosa. De Pernambuco, existem anotações de nomes de santeiros
esparsos na obra de Pereira da Costa. Mas, felizmente uma viva esperança de
aclaramento de muitos pontos obscuros está surgindo com as pesquisas de José
Antônio Gonsalves de Mello, no Arquivo da Irmandade de S. José do Riba Mar, que
possui até uma escola de escultores de talha e tinha entre seus membros a
hierarquia corporativa medieval, com aprendiz, oficial e mestre.” (34)
Contudo, o ponto culminante das
comemorações do Tricentenário da Restauração Pernambucana foi mesmo o discurso
monumental do consagrado orador e historiador Jordão Emerenciano, pronunciado
no interior da Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, nos Montes Guararapes :
“Hoje esta Igreja da Virgem dos
Prazeres, nestes sagrados Montes dos Guararapes, se convertem em Panteon
pernambucano. Aqui todos entramos de cabeça descoberta e respeitosos e os
pernambucanos sempre o fazem de joelhos. Esta Igreja, estes montes sagrados,
são uma permanente lição de civismo e heroísmo.
À direita e à esquerda do
Altar-mor repousam as
cinzas de dois grandes chefes da libertação : Vidal de Negreiros e Fernandes Vieira. São cinzas que merecem a gratidão dos pernambucanos e o respeito de todos quanto amam o heróico e o gosto nobre e belo de dar tudo pela libertação da Pátria. (35)
_______
(34)
Diário de Notícias. Rio de Janeiro, 15.08.1954.
(35)
Jordão Emerenciano. Guararapes. Recife, 01.08.1954. (
discurso datilografado ).
CIDADÃO DO MUNDO
Ao lado de inúmeros cargos públicos no Estado,
realizou, com freqüência, missões culturais ou simplesmente de caráter
diplomático, no plano interno ou das relações internacionais, a serviço de
Pernambuco ou do País.
NA ESPANHA
Considerado, no seu tempo, como um
dos maiores incentivadores do movimento de renovação cultural que se registrava
no Nordeste, viajou à Espanha, em junho de 1955, representando Pernambuco e
todos os seus municípios, para participar do I Congresso Íbero-Americano de
Municípios.
Na companhia de sua esposa, dona
Maria da Penha, foi recebido com honras de estadista, assenhoreado pela nobreza
e pelo requinte da hospitalidade castelhana. Esteve em El Escurial, nos Jardins
do Retiro, em Madrid, Toledo, La Alhambra e El Generalife, em Granada, e nos
Reales Alcares de Sevilha, onde ali fez uma saudação final em nome do Brasil,
como delegado de Pernambuco no Encontro :
“O Congresso Íbero-Americano de
Municípios foi uma esplêndida reunião de municipalistas e mais uma vez ficou
evidenciado que a maior fonte de vitalidade de civismo e até de riqueza está no
município que é a célula do país. A ele devem ser dados todos os recursos
materiais, reservadas as melhores oportunidades e concedida aquela autonomia
necessária para que possa florescer e desenvolver-se.” (36)
No salão dos embaixadores – do
Instituto de Cultura Hispânica - , o congressista Jordão Emerenciano foi
recebido pelo Generalíssimo Franco, chefe do Estado espanhol.
EM PORTUGAL
Retornou à Portugal, mês seguinte,
afim de condecorar delegados portugueses
que representaram o seu governo nas comemorações do Tricentenário da
Restauração Pernambucana.
Cinco insígnias da Medalha
Guararapes foram entregues na Embaixada do Brasil, em Lisboa, - sob a
presidência do Embaixador Heitor Lira às
seguintes personalidades lusitanas : Doutor José Manuel da Costa, Secretário
Nacional da Informação; professor Manuel Lopes de Almeida, da Universidade de
Coimbra; escritor Gastão Bittencourt; Doutor Alberto Iria, Diretor do Arquivo
Histórico e Ultramarino e o responsável pelo magnífico livro-documentário do
Tricentenário, e o senhor Elísio Gomes, presidente do Gabinete Português de
Leitura do Recife e membro da Comissão do Tricentenário.
_______
(36)
A união. João Pessoa, 07.08.1955.
JUIZ DO TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL
Declarando-se estar ali “imbuído da mais profunda
humildade e do mais elevado espírito de responsabilidade,” tomava posse, a 13
de março de 1958, o bacharel Jordão Emerenciano, no cargo de Juiz do Tribunal
Regional Eleitoral do Estado de Pernambuco – que fora um dos figurantes da
lista tríplice encaminhada por aquele Tribunal, para livre escolha do
presidente Juscelino Kubitschek - , o qual exerceria durante o biênio 1958 –
1960. (37)
Na saudação feita pelo então
presidente do Tribunal, o desembargador Dirceu Borges, foi ressaltado as
qualidades de cultura, inteligência, operosidade e amor à Justiça do novo juiz,
e declarado que representava uma honra àquela Corte de Justiça tê-lo como um
dos seus membros. (38)
Impressionante que até mesmo
desenvolvendo os ofícios da judicatura e de relator eleitoral, não deixou,
sequer, de transparecer e revelar a sua genialidade de historiador, prontamente
referida pelo desembargador Rodolfo Aureliano, no prefácio do relatório da comissão apuradora do pleito de
3 de outubro de 1958 :
“Este relatório, elaborado por
Jordão Emerenciano, relator da comissão
apuradora do T.R.E. , apresenta
todo um histórico dos antecedentes dos resultados das eleições de 3 de outubro
de 1958. O relator não se limitou a uma exposição seca e breve. Escreveu uma monografia sobre aquele pleito e fixou uma experiência político-eleitoral nada desdenhável. A sua leitura interessa não apenas aos candidatos e aos chefes de partidos, mas a quantos tenham qualquer parcela de responsabilidade na vida pública do estado e empenho em estudos sócio-políticos. “ (39)
Tendo servido àquela Corte com isenção e dignidade até 12 de março de 1960, foi ainda o brilhante orador e hermeneuta, sendo tais qualidades vocacionais reveladas por ele, mais adiante, por ocasião das comemorações da Semana da Marinha, na cidade do Recife :
“Tenho pela palavra, instrumento de comunicação e de enunciação do pensamento, aquele sagrado respeito que levou Max Muller a considerar a linguagem senão obra da Providência, ao menos, de inspiração divina. Habituado, por dever de ofício e íntima disposição, ao exercício da Tribuna e da Cátedra, habituei-me, também, à lealdade de dizer o que penso e de pensar o que digo e por em tudo quanto digo uma nota de profunda sinceridade e de intensa veemência. A esses hábitos, a essa íntima disposição, a essa lealdade, ao exercício da Tribuna e da Cátedra, acrescento, de algum tempo a esta parte, a responsabilidade da judicatura em uma veneranda Corte de Justiça. Desse modo, tenho pela palavra um respeito quase religioso e dela uso não para ocultar o meu pensamento ou dizê-lo em entrelinhas sibilinas. Entendo que as palavras contêm, em si mesmo, um eloqüente poder de expressão e valem, não raro, como juízo a que não é preciso acrescentar mais nada.” (40)
_______
(37)
Diário Oficial da União. Rio de Janeiro, 27.02.1958.
(38)
Jornal do Commercio. Recife, 14.03.1958.
_______
(39) Diário de
Pernambuco. Recife, 04.10.1958.
(40) Jordão
Emerenciano. Em louvor da Marinha. Imprensa Oficial. Recife. 1959. P. 11.
CHEFE DA CASA CIVIL
Leal e prestimoso serviu ao Governo Cid Sampaio, como
amigo pessoal do Governador e na condição de Chefe da Casa Civil do Governo de
Pernambuco, no período 1959 a 1962.
Um perfil autêntico deste
extraordinário homem, mestre de cerimônias e “public relations,” é revelado por
ninguém melhor que o próprio engenheiro Cid Sampaio, aquele que governou
Pernambuco dentro de uma filosofia plenamente direcionada ao seu
desenvolvimento : “Encontrei ao assumir o Governo, Jordão Emerenciano ocupando
a chefia do Arquivo Público, instalado no próprio Palácio do Governo. O fato
para uma chefia do governo passado fez-me observá-lo com uma certa reserva,
inclusive, com as informações tendenciosas daqueles que buscavam boas posições
em um governo que se iniciava com o objetivo de mudar processos, métodos e
filosofias que prevaleciam anteriormente.
A eficiência de Jordão no Arquivo
Público Estadual e o fato de privar com ele nos difíceis primeiros meses de
governo, fizeram-me conhecê-lo e convidá-lo para a chefia da Casa Civil; e
posso dizer hoje que dificilmente me teria sido possível encontrar homem que
com a sua grande cultura geral tivesse os caracteres morais de
responsabilidade, lealdade e dedicação à causa pública e aos princípios que
norteavam o Governo. Princípios e filosofia que ele passou a defender como quem
melhor pudesse fazer, além de companheiro no governo como os demais que o
constituíram, Jordão tornou-se o grande amigo, que, como os outros
colaboradores, nos permitiu a todos juntos reverter o processo de estagnação
que o Estado se encontrava, colocar Pernambuco na sua antiga posição de líder
regional, apresentando os maiores índices de crescimento e de progresso em toda
a região nordestina.
Jordão requintado, exerceu também
no governo simbolicamente a posição de embaixador nos contatos com os países
estrangeiros. Ninguém o igualava pela cultura, pelo entusiasmo com os
princípios e objetivos que o governo simbolizava no trabalho junto a
representações diplomáticas dos países estrangeiros e seus chefes de Estado que
nos visitaram como, por exemplo, o rei Selassié Hailé, da Etiópia, entre
outros.”
Tanto no período de agitação que
imperava no país e, particularmente, em Pernambuco, como as Ligas Camponesas,
como na viabilização dos projetos para o soerguimento do Estado, teve ele um
papel salutar. Participou ativamente das formulações político-administrativas
do governo Cid Sampaio, dentro de uma linha de absoluta discrição, a ponto de
somente ser percebida e sentida a marca de sua atuação pelos que constituíam o
núcleo-base das decisões do Governo.
E conclui o ex-governador : “Jordão
Emerenciano foi um homem que tinha devoção pelas funções públicas que assumia.
Era íntegro, sério, competente, apaixonado. Dedicou-se de corpo e alma à causa
pública. Tinha um cabedal admirável, sendo um dos pernambucanos mais festejados
intelectualmente na sua época.”
O POLÍTICO
Jordão Emerenciano foi um político discreto desde os
bancos acadêmicos, pertencendo a geração de 45 sendo ligado afetiva e
politicamente ao grupo liderado pelo então estudante José Cavalcante Neves.
Em 22 de agosto de 1962, afastou-se
temporariamente de suas funções públicas como professor da Universidade do
Recife, diretor do Arquivo Público Estadual, e chefe da Casa Civil do Governo
Cid Sampaio, para candidatar-se à suplência de senador, na chapa de Francisco
Pessôa de Queiroz.
Vitorioso no pleito de 3 de outubro
daquele ano, logo mais foi convidado, pelo
amigo e professor Görgen Hermann, da Universidade de Bonn, e então
presidente da Sociedade Teuto-Brasileira, para proferir conferências naquela
conceituada instituição de ensino. Não apenas nesta como também em várias
outras oportunidades, lá esteve representando Pernambuco e o Nordeste
Brasileiro – como o fez, inclusive, a convite do próprio governo alemão –
cumprindo um programa de divulgação das nossas potencialidades materiais e
culturais. Foi o porta-voz do Grupo de Estudos do Açúcar ( GEA ), Instituto do
Açúcar e do Álcool ( IAA ), e do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária ( IBRA
), que esclarecia, com determinação, o vigoroso trabalho da Superintendência do
Desenvolvimento do Nordeste ( SUDENE ).
Somando-se ao estudo publicado por
técnicos norte-americanos da Hawaiian Agronomics International – “Diversification
and Modernization of Agricultura in The Sugar Canezone of Nostheast Brazil” –
mais de uma dezena de substanciosos relatórios do G.E.A. foram elaborados por
Jordão Emerenciano, envolvendo as mais diversificadas questões do setor
açucareiro, e que tiveram um papel de suma importância para as decisões da
SUDENE. Num deles, assim conclui : “O Nordeste tem potencialidade para atingir
suas quotas de produção, superar contingências ecológicas, reduzir os custos e
quebrar as tensões sociais. É claro que nada disso ocorrerá por milagre ou sem
um grande esforço. O Nordeste tem porém uma boa constante de pertinácia e
iniciativa.” (41)
Ainda da mesma época, o então
Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais promovia, um Seminário sobre
Reforma Agrária na Zona da Mata, conseguindo reunir no mesmo debate Miguel
Arraes, Francisco Julião, o general Castello Branco, e o sociólogo Gilberto
Freyre. Por sua vez, um encontro dos bispos – realizado em agosto de 1967 em
Campina Grande – e presidido por Dom Hélder Câmara - , debatia e estudava
problemas dos trabalhadores rurais canavieiros, com a maior seriedade.
Ainda em 1967, foi digno de
registro nacional o seu trabalho à frente da Secretaria Executiva do “Encontro
do Nordeste”, realizado no Clube Internacional do Recife, no qual participaram
capitães de indústria e políticos nordestinos que contribuíram
consideravelmente para ampliar e fixar a imagem desta região. (42)
_______
(41)
Jordão Emerenciano. A problemática açucareira na
economia do Nordeste. G.E.A. Recife,
30.11.67. p. 14 ( datilografado ).
(42)
Nomes do Novo Nordeste. In : Fatos & Fotos. São
Paulo. 20 de fevereiro de 1969. p. 31.
SEMANA DO NORDESTE
BRASILEIRO
Em julho de 1969, atendeu ao
chamado da República Federal da Alemanha, através do Deutscher Akademischer Austauschdienst
( D. A .A. D. – Serviço Alemão de Intercâmbio Universitário ) para uma viagem
de estudo e contatos em diversas universidades germânicas. Nas conferências que
pronunciou em Bonn, durante a Semana do Nordeste Brasileiro, situando a atuação
da SUDENE, expôs a extensa obra já existente de infra-estrutura e de
equipamento social. Explicou o mecanismo financeiro e a disciplina de
financiamento de projetos do órgão desenvolvimentista. Capítulo de maior
interesse foi o referente às disponibilidades do Nordeste, no qual demonstrou o
que esta região pode oferecer aos investidores estrangeiros que pretendam
participar do seu esforço pelo desenvolvimento. Entre diversos aspectos alinhou
a mudança de mentalidade e a consciência arraigada da irreversibilidade do
processo de desenvolvimento de que participam muitas forças da opinião pública,
e a certeza de que os que se associarem a esse processo estarão fazendo
investimentos rentáveis e contribuindo para quebrar tensões sociais de uma
extensa área que hoje é alvo das perspectivas e do interesse de muitas nações.
(43) No capítulo referente à criação do Conselho do Desenvolvimento do Nordeste
( CODENO ) e SUDENE, também mencionou a importância das iniciativas e da
atuação do deputado Cid Sampaio, então governador de Pernambuco, cujo
quadriênio teve a maior ênfase na demarragem do processo de desenvolvimento;
referências estas, que foram ainda endossadas pelo professor Hermann, que fez
uma citação especial ao nome do grande político pernambucano. (44)
_______
(43)
Periscópio. In : Diário de Pernambuco. Recife,
27.08.69.
(44)
Jordão Emerenciano. Crônicas da Alemanha – II. Ainda o
D.A.A.D. Recife, agosto, 1969. ( datilografado ).
VISITA ÀS BIBLIOTECAS E ARQUIVOS
Visitando Jordão Emerenciano as
universidades de Bonn, Colônia, Dortmund-Muanster, Hamburgo, Berlim e Munique,
foi-lhe possibilitado um demorado convívio com os professores e os alunos dos
seminários românicos dessas universidades - dirigidos, alguns, por lusófilos e
brasilianistas conhecidos largamente no mundo de língua portuguesa – com os
institutos íbero-americanos de Hamburgo e Berlim, sem falar no COSAL de
Dortmund, onde ouviu referências muito honrosas a Gilberto Freyre, considerado
como uma das mais altas expressões não apenas do pensamento brasileiro mas da cultura
contemporânea. (45)
O DAAD tornou-lhe possível, ainda,
uma demorada visita ao Arquivo Secreto da Prússia – onde pôde observar
documentos pessoais do ditador Adolf Hitler - , completada com uma outra ao
Arquivo da cidade de Colônia e ao serviço de restauração de livros e documentos
da Biblioteca da Universidade de Hamburgo – visita que seria enriquecida e
ampliada, graças à Sociedade Teuto-Brasileira de Bonn, com a que fez ao Arquivo
da cidade de Friburgo, capital da Floresta Negra. (46)
_______
(45)
Jordão Emerenciano. Crônicas da Alemanha – II. Ainda o
DAAD. Recife, agosto, 1969. ( datilografado ).
(46)
Idem, idem.
A LUSITANIDADE DE JORDÃO EMERENCIANO
Muito moço ainda, iniciava-se Jordão aos estudos da
História Brasileira, interessado em elucidar todos os seus fastos grandiosos, e
bem assim, fazer preleções instrutivas a esse fim, dentro da própria escola
onde estudava. Se dedicou com tanto afinco a essa finalidade que logo mais
tornar-se-ia num dos mais notáveis historiadores brasileiros de seu tempo.
Primeiranista da Faculdade de
Direito do Recife, ali pronunciou, a 10 de junho de 1940, um magistral discurso
em homenagem a Portugal, onde as suas primeiras impressões lusitanas são a de
um amante cada vez mais embevecido e fiel :
“A homenagem que estamos prestando
a Portugal se reveste numa alta significação porque é uma manifestação
espontânea da mocidade inteligente e culta. Quero salientar a grande satisfação
que sinto em dirigir estas palavras ao nobre Portugal, em nome de inteligências
moças e sem preconceitos, em falar em nome desta casa que é o relicário da
cultura jurídica do Brasil. A homenagem da Faculdade de Direito do Recife é
toda um pleito de admiração pela capacidade realizadora de Portugal, pelo seu
espírito construtor, pelo espírito de civilização portuguesa, é uma homenagem a
Portugal eterno!
Integra o espírito português um
conjunto de virtudes e qualidades que por si só bastavam para distinguir todo
um povo. Afonso Henrique, D. Dinis, Nuno Alvares, a Rainha Santa, D. João III,
D. Sebastião, D. João IV, encarnem todo este espírito histórico de Portugal.
Este espírito que é todo arrojo heróico, sentimento, misticismo, capacidade
realizadora, inteligência lúcida e fé inabalável, está no Mártir de
Évora-Monte, está na geração de Sardinha, está em Portugal que caminha para uma
restauração integral do seu destino histórico. O espírito deste Portugal eterno
é o de um povo predestinado, dum povo escolhido por Deus para realizar grandes
coisas. Portugal e Espanha, dois corpos, uma só alma, são povos instrumentos da
Providência. O Vale da Raça deixou no diálogo entre o Catual e Paulo Gama,
palavras que dizem muito dessa missão de predestinados :
“Quem he, me dizer, est’outro que
me espanta
Pergunta o Malabar maravilhado
Que tantos esquadrões que gente
tanta,
Com tão pouca, tem roto e
destrocado,
Tantos mouros asperrimos quebranta
Tantas batalhas dá nunca causado,
Tantas coroas tem por tantas partes
A seus pés derribadas e
estandartes?”
Este he o primeiro Afonso “disse o
Gama”
Que todo Portugal aos Mouros toma,
Por quem no Estigio logo jura a
Fama
De mais não celebrar nenhum de Roma
Este he aquele zeloso, a quem Deos
ama,
Com cujo braço o Mouro inimigo
doma.”
Nuno Alvares compreendeu, também,
esta predestinação do seu povo. Suas palavras quando a peleja era mais acesa,
confirmou esta coincidência de predestinados :
“Mas olha com que sancta confiança
Que inda não era tempo, respondia
Como quem tinha em Deos a segurança
Da victoria que logo lhe daria.”
Já em Ourique Afonso dissera a Deos
:
“Aos infieis, Senhor, aos infieis
E não a mi, que creio o que
podeis.”
Em Ourique e Aljubarrota, onde dois
homens falaram por toda uma raça, há mais de que uma afirmação de
nacionalidade, há uma coincidência coletiva duma missão extraordinária, há
milagre, há Deus falando a uma Raça. E o melhor da História Portuguesa diz-nos
que esta admirável incumbência foi realizada. Na luta contra os sarracenos o
patriotismo não é maior do que a fé. Quando um desfalecia a outra era pronta e
vigorosa. Nos descobrimentos o gosto pela aventura, os móveis econômicos, não
são maiores que o desejo de dilatar a fé. Há sempre em todo grande feito
português algo mais transcendental e decisivo que motivos materiais. Mas a
maior obra do gênio lusitano é a Colonização. Depois da epopéia
trágico-marítima veio a ação, o espírito realizador e construtivo. É
colonizando, civilizando, pregando a fé que Portugal confirma a sua missão.
Sardinha retratou em versos admiráveis a obra portuguesa :
“Tu deste do teu ser ao mundo inteiro
batendo-te por Cristo verdadeiro
ó Cristo das Nações, ó Portugal.”
Portugal fez-se aos mares para
dilatar a fé e o Império levando a Cruz de Cristo como estandarte e as suas
chagas como escudo darmas, em tudo se revela um verdadeiro Cristo das Nações.”
(47)
Foi Portugal, sem dúvida, a sua
confessada segunda Pátria. Entretanto, todo o seu extremado amor que sentia por
Portugal não conseguia suplantar em nenhum momento a sua devotada paixão pelo
Brasil, como exímio cultor da sua história, das suas legítimas tradições e da
sua brava gente.
Vale ressaltar, que aquele discurso
( deixado de ser transcrito integralmente ), foi pronunciado de improviso e
constituído posteriormente. Para tanto, Jordão Emerenciano se arrimou em
diversos títulos bibliográficos de Handelmann, Sonthey e Porto Seguro, Roberto
Simonsen, Laureis Insignes, Oliveira Lima, Alfredo Pimenta, entre outros.
_______
(47)
Jordão Emerenciano. Fastos Portugueses. In :
Fronteiras. Ano IX. Nº 6. Recife, junho de 1940. Oficinas Gráficas de Renda Priori
& Cia. Págs. 25,26.
O JORNALISTA
De estilo essencialmente primoroso, como jornalista
colaborou, durante muitos anos, no Diário
de Pernambuco ( sob o título “COL. 1 TIPO 7” ); Jornal Pequeno; Jornal do Commercio, do Recife e do Rio de Janeiro;
Tribuna de Petrópolis e n’A União, de João Pessoa.
No periódico A Gazeta, escreveu o interessante artigo “A Imprensa e o seu
dever”, na edição de 25.12.1950, no qual frisava : “É tempo de cada responsável
pelo jornal ou pelo rádio lembrar-se, sem ironia nem sarcasmo, desse dever de
fazer boa imprensa. Boa imprensa significa, antes de tudo, amor à verdade e
convicção profunda de que a imprensa é um meio de educação do povo e do seu
elevamento moral. A imprensa não pode ficar estranha a essa tarefa de difundir
entre os homens o gosto pela compreensão cristã, pela bondade, pela ternura,
pela simpatia humana e pela solidariedade.” (48) Em Portugal, colaborou para o Diário da Manhã, de Lisboa, e Jornal de Monção, escrevendo neste, um
artigo, na edição de 11.07.1953, onde se referia ao escritor e amigo lusitano
Manuel Anselmo que enfatizava a obra literária do poeta Mauro Mota :
“... Desde logo, grita aos quatro ventos se já li o maior
livro da poesia brasileira nos últimos anos e se conheço o poeta mais
representativo da nova geração de poetas do Brasil. Não há dúvida que ele se
refere a “Elegias” e a Mauro Mota. É o
momento da mais profunda emoção esse em que, no extremo norte
de Portugal, escuto alguém, tão autorizado, emitir um juízo desse sobre o poeta
pernambucano. Sem prévia combinação, começamos ambos a recitar o “Boletim
Sentimental da Guerra no Recife” que é, na verdade, um dos grandes poemas da
poesia brasileira, neste último quartel do século.” (49)
_______
(48) Luís Wilson. História da Imprensa de
Pernambuco ( 1821 – 1954 ) Vol. III – Periódicos do Recife –1916 – 1930.
Universidade Federal de Pernambuco. 1982, p. 39.
_______
(49) Jordão
Emerenciano. Caderno de Viagem. In : Jornal de Monção. Portugal, 11.07.1953
O COMENDADOR
Em 1948, Jordão tinha apenas 29 anos de idade, quando
recebeu do Governo de Portugal, a insígnia de Comendador da Ordem Militar de
Cristo, a mais alta condecoração portuguesa. Mais adiante, muitas outras lhe
seriam conferidas, como sejam : Colar do Instituto de Cultura de Coimbra,
Medalha Anchieta ( prata ), em São Paulo, no ano de 1954; Medalha da Cidade de
Madrid ( em prata ), em 1955; Comendador da Instrução Pública de Portugal, Medalha Imperatriz Leopoldina, 1958; Medalha
Guararapes ( prata ), Mérito Naval ( Oficial ), Medalha General Craveiro Lopes,
de Portugal, classe ouro, Medalha Tamandaré, pela Marinha de Guerra Brasileira,
em 1959; Medalha Rui Barbosa, Ordem do Mérito da Áustria, grau de Comendador,
em 1960; Comendador do Mérito da República Argentina, 1961; Comendador do
Mérito da República Italiana, Mérito Militar do Exército Brasileiro, grau de
Oficial, em 1962; Medalha Pernambucana do Mérito ( em prata ), Medalha do
Mérito da Cidade do Recife ( prata ), 1963; Medalha Sílvio Romero, 1965; Mérito
Naval, no grau de Comendador, em 1966; Mérito Militar do Exército Brasileiro,
grau de Comendador, em 1968, entre dezenas de outras condecorações nacionais e
estrangeiras. Vale salientar, que o seu rico colar de Comendador que recebera
do Governo de Viena ( decreto de 15.04.1960 ) significou-lhe um fato
excepcional, pois, fazia 42 anos que o governo austríaco não concedia qualquer
condecoração a brasileiro no Nordeste do Brasil.
O CATÓLICO
Como remate a esse estudo global da personalidade de
Jordão Emerenciano, lancemos um olhar a um dos aspectos, não dos menos
importantes, de sua configuração moral e humana : o aspecto religioso. Quantos
o conheceram e com ele trataram, sempre o tiveram como um homem de fé.
Descendente de família
tradicionalmente católica, como todas as grandes famílias brasileiras, foi
criado, na infância, num ambiente de reflexão e de piedade. O sentimento
religioso, que se marcara profundamente na sua alma e na sua sensibilidade, e
nos verdes anos em que na igrejinha de Santa Ana, em Catende, assistia à santa
missa, nele permaneceu latente e aflorou quando o estudo, a meditação, a
influência dos fatores hereditários e o exemplo da esposa fervorosa e crente,
mais ainda, o estimularam.
Educado no Recife, no educandário
dos jesuítas, ali adquiriu mais motivação e força espiritual. Integrou-se
totalmente na Igreja. Certo que muito concorreu para isso o senso estético do
catolicismo, a beleza profunda de suas preleções e cerimônias exteriores, todo
o simbolismo artístico de sua liturgia.
São de fato, de um homem de fé
perseverante os gestos, as atitudes e ações que empreendeu durante toda a sua
vida.
O padre Romeu Peréa – um de seus
confrades da Academia Pernambucana de Letras e de seus mais íntimos amigos - ,
deu um significativo depoimento sobre a sua personalidade : “Não foi uma vez só
que Jordão, aproveitando a presença de sacerdote, no Arquivo Público, suspendia
uma reunião, encostava a porta de seu gabinete e caía no chão, com todo o seu
corpão e com a ingenuidade de uma criança, para confessar-se – o que fazia com
freqüência, sobretudo, na véspera de uma viagem ao exterior. Não foi uma vez só
que, em plena festa social, celebrada em salões esplêndidos, curtia um drama
íntimo, que ele disfarçava com um sorriso nos lábios ante aqueles que ele
próprio animava. Não foi uma vez só, enfim, que me declarou que preferia o
pequeno crucifixo que escondia no peito a todas às condecorações que mostrava
no seu largo tórax.” (50)
Havia portanto nele muito daquele
ardor agradecido de Francisco de Assis quando entoava os seus hinos de louvor a
Deus pelas suas criaturas e por toda a beleza que espalhara prodigamente pelo mundo.
Está aqui, a raiz escondida da
atividade deste homem – vária e
múltipla. Está aqui a central onde tomava energia para a sua marcha na vida.
Uma vida, à primeira vista desorganizada em meio a tantas ocupações e preocupações,
mas, na realidade, severamente controlada por uma disciplina da mente que era a
que dava força à sua inteligência para poder pensar e agir.
Visitava ele com freqüência, o
Convento de Santo Antônio, da rua do Imperador, como ainda diversos outros
cenóbios e igrejas do Recife e Olinda. E para ainda sacramentar todo aquele seu
inabalável sentimento de fé cristã foi abençoado pelos Cardeais Cerejeira,
Patriarca de Lisboa, e Montini, Arcebispo de Milão, futuro Papa Paulo VI.
_______
(50)
Padre Romeu Peréa. Jordão Emerenciano : homem de vida
interior. In : Caderno Moinho Recife. Nº 10. Janeiro, 1972. Dialgraf. p. 34
Bem não se preparava para
abrilhantar as comemorações cívicas do Sesquicentenário da Independência
Nacional de cuja Comissão
Organizadora neste Estado
foi o seu
maior incentivador, e que seria, por certo, a estrela fulgurante
da festa, quando, a 17 de fevereiro de 1972, foi acometido de um enfarte vindo
a falecer poucos instantes depois. Morreu em plena força criadora e motivação
de viver, muito moço ainda e poucos dias após completar 53 anos de idade.
Não só Pernambuco como o Brasil
perdia, assim, um exímio cultor da nossa história e das nossas tradições. O
escritor Gilberto Freyre declarou que “em Jordão Emerenciano, a cultura
brasileira perde um dos seus melhores valores. Era um humanista autêntico. Era
um verdadeiro scholar. Mestre universitário, sabia expor como poucos : com
clareza, método, precisão. A esse talento de expositor lógico, juntava o mágico
de orador. Fazia da oratória uma arte, seduzindo os ouvintes com a sua palavra,
a que não faltavam nuances, indo do dramático ao lírico.” (51)
Ele não ficou para a grande festa;
a que iria manifestar, com todas as suas rutilâncias e eloqüência, o seu elogio
a Dom Pedro II e a todos aqueles brasileiros e lusitanos que se empenharam para
que o Brasil fosse uma pátria livre. Digno de registro foi, o ofício que havia
enviado ao coronel Manoel Costa Cavalcanti, presidente da Grande Comissão do
Estado, apresentando sugestões das mais diversas e necessárias e com cuidado de
não esquecer absolutamente nada. Não seria, por certo, com menos requinte e
entusiasmo com os que se lançara, naqueles idos de 1954, por ocasião das
solenidades do Tricentenário da Restauração Pernambucana.
_______
(51) Diário de Pernambuco.
Recife, 18.02.1972.
Por toda a parte do Brasil, a
notícia nefasta causou grande consternação, mais acentuadamente, nos meios
intelectuais onde tanto atuava. O Jornal do Brasil, na sua edição de
19.02.1972, publicava :
“Uma das figuras mais conhecidas e
populares do Recife, morreu ontem, depois de brincar os três dias de carnaval
fantasiado de mandarim e sob a ameaça de um enfarte. Sempre de branco, barbicha
grisalha, bengala e chapéu, o professor Jordão Emerenciano era historiador e
grande defensor da cultura portuguesa. Conferencista respeitado, defendia o
regime monárquico como o único válido e
digno. Antigo diretor do Arquivo
Público de Pernambuco e ex-chefe da Casa Civil de vários governadores do
Estado, gostava de ficar discutindo com os conhecidos – e mesmo com
desconhecidos – em rodinhas de rua, quando a tarde ia terminando. Excelente gourmet, os papos versavam desde os
comes e bebes da cozinha pernambucana até a política nacional.”
O professor Severino Jordão
Emerenciano teve de suas primeiras núpcias com a senhora Corina Castro
Emerenciano os seguintes filhos : Manoel Alonso Jordão Emerenciano ( advogado e
conferencista de projeção nacional ), José Eduardo Jordão Emerenciano, José
Adolfo Emerenciano e Maria Augusta Emerenciano Massude. Tendo enviuvado, a 30
de dezembro de 1950, conhecera a senhora Maria da Penha Ribeiro Pessôa no dia
04 de agosto de 1951, contraindo núpcias a 10 de janeiro de 1953 e com a qual
teve cinco filhos : Fernando Antônio Jordão Emerenciano, Otávia Lúcia Jordão Emerenciano,
Jordão Emerenciano Júnior, Maria da Penha Jordão Emerenciano de Arruda e
Francisco José Jordão Emerenciano.
Interessante que a sua última
viagem fosse num trem especial, que fizera, poucos dias antes de sua morte, à
Usina Cucaú, em companhia do engenheiro Emerson Jatobá e de diversos outros
amigos, a convite do usineiro Armando de Queiroz Monteiro. “É possível,
misteriosamente possível, que fosse se despedir do seu mundo mágico, procurando
voltar às raízes, na busca de uma revitalização, da juventude, de um verde que
combatesse o cinzento em que estava mergulhando. Espero que ele salte, no fim
da linha, com o mesmo aplomb
que desceu na Estação de Cucaú,
com alguma coisa de infância
reencarnada, e que o seu sentido de hospitalidade seja bem retribuído. ”
Evocava liricamente o sociólogo Renato Carneiro Campos, então diretor do
Departamento de Sociologia do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais.
(52)
Comendador, orador, promotor, juiz,
advogado, professor, jornalista, escritor, historiador... O título que mais lhe satisfazia era o de “zeloso guardião do Arquivo Público
Estadual”
______
(52)
Renato Carneiro Campos. Um homem cordial. In : Diário
de Pernambuco. Recife, 20.02.1972.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta é, em última análise, não pura e simplesmente a
performance de Jordão Emerenciano, mas, ainda, uma história de paixão. Os
exemplos de sua vida permanecerão como estímulo para quantos se devotarem a
Pernambuco e ao Brasil com aquela tenacidade fecunda que tanta grandeza lhe
concedeu ao nome aureolado em nossa história política, administrativa e
literária. Pernambuco orgulha-se por havê-lo tido como filho e por tê-lo na
galeria dos seus maiores valores humanos.
Se alguma qualidade aflorava por
sobre todas – a inteligência, o dinamismo, a “finesse”, os dotes de diplomata,
o apreciador do belo em qualquer manifestação, o “gourmet” que distinguia as
excelências de qualquer prato internacional – essa qualidade máxima era a
bondade. Jordão Emerenciano não fora somente um especialista, um investigador
de fatos históricos, um orador, e um dos melhores de nossa época, um batalhador
incansável por tudo que se prendesse às letras, às artes, à heráldica, por tudo
enfim onde se fizesse necessária sua contribuição pessoal : fora, sobretudo,
infatigável e bom no seu labor diário. Infatigável pelo muito que fez e bom
porque era a bondade em pessoa, um temperamento liberal e afável. Embora tenha
sido um Cidadão do Mundo, foi desprovido de vaidades, principalmente cortês e amável
para com todos que lhe cercavam. A sua conduta pode-se traduzir como um ato de
amor sublimado pelo ideal de servir.
Sobre ele, já foi dito pelo
escritor Nelson Saldanha, na oportunidade em que pronunciava, a 22 de fevereiro
de 1972, o elogio fúnebre, em sessão especial da Academia Pernambucana de
Letras : “Viver fidalgamente seria, para
Jordão, viver à grande, mas não apenas no sentido dos aparatos mundanos e das
ostentações epidérmicas, sim na unidade
profunda e formas e conteúdos, de símbolos e de atitudes, de sentimentos e de
atos. ( ... ) A sua obra, pela multiplicidade dos títulos
que apresenta, demonstra a luta do ensaísta
no sentido do embasamento necessário àquelas, como disciplinas do
espírito : “ Três Instrumentos de Trabalho”; “Apontamentos para Narrativa da
Feliz Empresa da 2a Batalha dos Guararapes”; “D. João – o Rei e o
Homem”; “Joaquim Nabuco e a Igreja”; “José Mariano ou o Elogio da Tribuna”; “A
Revolução Pernambucana de 1817”; “A Primeira Batalha dos Guararapes e Sugestões
para a sua Narrativa”; “Edgar Allan Poe, o Homem e o Temperamento”; “A Hora de
Gil Vicente”; “Apontamento para o Estudo da Vida de Frei Luiz de Souza”; e,
enfim, a monografia “Fidelino Figueredo – o Bibliógrafo”, entre outros
trabalhos.
BIBLIOGRAFIA
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JORNAL do Commercio. – Recife. Diversas datas.
JORNAL do Commercio. – Rio de Janeiro. Diversas datas.
JORNAL Pequeno. – Recife. Diversas datas.
TRIBUNA de Petrópolis. – Petrópolis. Diversas datas.
Parabéns pelo Homenagem! Grata.
ResponderExcluirVanessa Emerenciano (Sobrinha-neta)