Última reportagem da série sobre o prontuário de dom Helder no DOPS revela que até os homens encarregados de investigar supostos "subversivos" eram vigiados
O ex-delegado Jorge Tasso de Souza foi um dos fichados: "Sempre desconfiei que tinha um prontuário". Foto: Tereza Maia/DP/DA Press |
Um documento existente no prontuário de dom Helder Camara no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), em Pernambuco, é revelador. Embora aparentemente sem vínculo com a rede montada para vigiar o ex-arcebispo de Olinda e Recife, durante a ditadura militar, consta entre os relatos dos arapongas uma "relação dos prontuários de delegados de polícia" investigados. Muitos deles dilapidados no conteúdo. Um fato que aponta para dois caminhos. O primeiro é a constatação de que o prontuário do sacerdote teve peças retiradas - e possivelmente destruídas - antes da reabertura democrática, nos anos 1980. Indício dessa prática é que foram preservados apenas 9,7% dos 176 prontuários dos delegados. O segundo é que os nomes constantes na lista evidenciam que ninguém escapava da desconfiança dos governos militares. Nem mesmo os agentes de segurança, como os delegados, escalados para manter "a ordem" no país.
Era o governo vigiando o próprio governo. "O que fica claro, com isso, é que não havia preocupação somente em reprimir a esquerda, mas também preventiva", analisou o técnico do Arquivo DOPS do Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano (Apeje), Cícero Souza. Por desconfiança, os altos escalões mandavam investigar a todos. Essa preocupação revelava-se na vigilância aos delegados, que, ao menos oficialmente, eram do lado do regime. E responsáveis por investigar ações e pessoas contrárias à ordem. A "relação dos prontuários dos delegados de polícia" indica que na lista havia investigadores de polícia e auxiliares de legista.
Era o governo vigiando o próprio governo. "O que fica claro, com isso, é que não havia preocupação somente em reprimir a esquerda, mas também preventiva", analisou o técnico do Arquivo DOPS do Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano (Apeje), Cícero Souza. Por desconfiança, os altos escalões mandavam investigar a todos. Essa preocupação revelava-se na vigilância aos delegados, que, ao menos oficialmente, eram do lado do regime. E responsáveis por investigar ações e pessoas contrárias à ordem. A "relação dos prontuários dos delegados de polícia" indica que na lista havia investigadores de polícia e auxiliares de legista.
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